terça-feira, 4 de agosto de 2009

Coisas de Cabo Verde

Coisas de Cabo Verde - 1



Há coisas em Cabo Verde, que nós aceitamos como factos muito naturais numa determinada altura da nossa vida em Cabo Verde, mas que depois, uma análise retrospectiva leva-nos a tirar deles algumas ilações, sobretudo quando nos confrontamos com outras sociedades.
Por exemplo, lembro-me, quando vivia na ilha do Fogo, ainda criança, havia lá um cidadão de S.Filipe cujo nome de registo nunca cheguei a saber, que era conhecido e referido por todos pelo nome de Prétu, assim pronunciado, ou seja Preto em português. Prétu terá acabado por assumir naturalmente ou a contragosto, essa espécie de segundo nome, a maior parte das pessoas em Cabo Verde têm e que nos habituamos a chamar “nominho”. Possivelmente uma noção instintiva de estratégia defensiva para quem não quer segregar-se da comunidade em que vive é simplesmente assumir o segundo nome , que por vezes começou por ser uma alcunha como a qual se acaba por viver em paz. caso contrário o risco é cair num vórtice de acções e reacções que, se não conduz à loucura, leva a diversas formas de auto-isolamento ou alienação. Só que quando um indivíduo passa a ser identificado na comunidade em que vive pelo nome de Prétu, não se trata aqui de um epíteto racista, mas simplesmente de identificação pessoal. Passa a ser o seu nome popular, que acaba por sobrepor-se ao nome de registo ou de baptismo, a tal ponto que, se alguém lhe endereçar uma carta com o nome de registo, possivelmente ninguém saberá quem é o destinatário.
A observação dessas situação levam-nos a concluir que em Cabo Verde, por razões diversas da sua história, se criou a partir dos africanos e europeus que se fixaram nas ilhas, uma sociedade com características muito próprias que vale a pena analisar com maior cuidado e profundidade, pois talvez nos dê pistas para solução de problemas de exclusão, integração e inserção social de minorias étnicas em sociedades de acolhimento de imigrantes de diferentes origens e culturas que os diferenciam dos autóctones das sociedades. para onde emigram.