terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Beleza de Cabo Verde

A beleza das nossas ilhas é feita de contrastes entre rochas soberbas, areais imensos e o azul do mar, que na nossa proximidade toma tons de um verde cuja intimidade nos envolve inevitavelmente.
É feita da imponência das das nossas rochas e das nossas montanhas...
Creio que a beleza das ilhas de Cabo Verde está na imensa variedade de cenários geográficos e humanos que nos vai oferecendo de ilha para ilha.

Já uma vez, numa maré de saudade da terra, dei comigo a escrever, quase compulsivamente, um texto sobre a impressonante entrada da baia do Porto Grande de São Vicente e dos estonteantes areais que envolvem a ilha. Mas se quiserem ver montanhas que são autênticas catedrais de rocha, vão até Santo Antão, e depois percorram as suas ribeiras, essas como a Ribeira do Paúl, de águas cantantes, que sulcam as rochas da ilha.
Visitem a ilha Brava, e percorram os seus caminhos ladeados de cardeais e purgueiras, e as suas avenidas de acácias rubras, mas desçam também até ao fundo das ribeiras verdes de Fajã de Água e dos Ferreiros, Aguada e Tantum, até ao mar, e sintam o encanto dessa ilha, que alguém já comparou a Brigadoon, mítica aldeia da Escócia envolta em brumas, ficcionada numa célebre opereta com esse nome. Ilha Brava, que Eugénio Tavares cantou para a eternidade.
Da Brava viajem até à Ilha do Fogo e sintam a magestade do seu Vulcão, mas também os recantos de verde dos milheirais, das vinhas e feijoais, dos rubros e amarelos das flores de campo que povoam a ilha, e disfrutem o incrível cenário que se avista do topo das montanhas, vejam esse mar largo que a envolve e as silhuetas das outras ilhas irmãs ao longe: a Ilha Brava mesmo ali em frente, Santiago ao lado, São Nicolau ao longe, nos dias claros.
Dai vão até Santiago. Em Santiago, dêem um salto primeiro até à Cidade Velha, antiga Ribeira Grande, que foi outrora a capital da Colónia de Cabo Verde. Mas antes de deixar a Cidade Velha, subam até à Fortaleza e vejam daí o mar à volta. Jorge Barabosa diria :
“O mar, sempre o mar à nossa volta... o desassego do mar...”
Mas o mar visto dali da fortaleza é um mar imenso e calmo. Um mar sem dono, que nos apela a conhecer outras terras, a conhecer o mundo.
Não conheço a Ilha do Maio, ali perto, mas dizem que é outra ilha mágica. Só indo lá , saberemos o que é o Maio. O Maio para mim é como uma reserva de tranquilidade e beleza simples, que gostaria de guardar em segredo, avaramente, para que não vá ninguém estragar o que lá há. Peço-vos pois, não contem a ninguém o que vos disse sobre a ilha.
Acho que deve ser parecida com a Ilha da Boa Vista, mas mais pequena. Ou, se calhar, com o Sal.
O Sal. A Ilha do Sal. Acho que todos os cabo-verdianos que viajam de avião têm uma dívida para com o Sal. E porquê?
Porque passam pelo Sal e não conhecem o Sal como deve ser. Claro que o Sal é um espaço magnífico de turismo.Não há no mundo outra praia como a Praia de Santa Maria. E há hoteis, excelentes hoteis de turismo. Mas vejam bem a Vila de Santa Maria, andem pelas ruas de Espargos, vão até Fiúra ver o mar ali numa expressão rebelde, diferente, irreverente, mas extremamente belo, e as rochas que nos magnetizam numa contemplação em que a noção do tempo se esvai e perde.
Gostaria de vos descrever a beleza da Boa Vista, feita de praias de areia cintilante, de dunas e campos de pastagens. E sítios à beira-mar que falam de sagas marítimas, encalhes e moias, de tesouros no fundo do mar, de naufrágios e de pirataria.
E falo agora de S.Nicolau, em último mas não o menor lugar. Antes pelo contrário: é, só por si, um gosto que daria para escrever um livro, mesmo quando Baltazar Lopes já escreveu o incomparável Chiquinho da nossa permanente admiração.
S.Nicolau é impossivel de se descrever, quando tentamos procurar um lugar por onde começar. Pela Vila da Ribeira Brava, pelo Cachaço, pela Queimadas, pelo Monte Gordo, pelo Tarrafal pelo Cabeçalinho, pelo Curralinho? Se calhar é melhor ir até ao Norte, que não é o Norte dos pontos cardeais, mas de nome só. Ou então pela Ribeira Prata, ou antes pela Fajã, pelo Morreome e Pico Agudo de João Lopes, um dos homens da Claridade, a que ele próprio deu o nome de Egolândia.São Nicolau? Uma civilização, volto a dizê-lo, como em tempos já o tinha escrito.
E Santa Luzia? Desabitada. Será justo chamar-lhe desabitada quando durante tantos anos viveu um homem que ali guardava o gado de um proprietário de S.Nicolau? Pelo menos naquela altura poderia dizer-se que o Ilha de Santa Luzia era habitada por um homem e umas tantas cabeças de gado. Se fosse na America chamar~lhe-iam um “cowboy”. Um cowboy solitário.