quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Implante de consciências

Não se trata de uma prótese de neurónios à maneira dos filmes de ficção científica, nem do mais recente avanço da engenharia genética ou de biotecnologia.
Trata-se simplesmente de uma prática que foi e continua a ser corrente em regimes totalitários quer de formação fascista, quer marxista-leninista, ou pelo menos assim normalmente auto-classificados, ou nalguns Estados que, apesar de terem adoptado, formalmente, regimes democráticos, continuam a sofrer os efeitos de inércia do monolitismo político dos regimes precedentes.
Em que consiste essa prática?
Através de uma máquina de propaganda e endoutrinação utilizada nos seus momentos próprios, que vai desde comícios aos diferentes instrumentos de comunicação social, cartazes, panfletos, filmes, sob a direcção e fiscalização dos departamentos de Estado e instituições para isso vocacionadas, são veiculadas ideias, informações seleccionadas de acordo com critérios de conveniência, imagens condicionadas, juizos e conceitos que não serão sujeitos ao debate ou à controvérsia aberta, uma vez que o governo detem a exclusividade da sua discussão. Essa exlusividade é nesses casos assegurada por um poder centralizado, inquestionável, e apoiada num duvidoso pressuposto de democracia interna.
Não havendo controvérsia aberta, não havendo discusssão a outros niveis que não no interior do círculo do poder, onde se instalam vícios próprios e por vezes muito subtis, incluindo o da auto-suficiência e infalibilidade de magister dixit; as normas e padrões de procedimento ditados a partir dos diferentes orgãos e instituições de um Estado assim montado, vão-se assim implantando nas consciências, passando a ser cumpridas mecanicamente, quer sejam aceites em consciência, quer não. Os meios que este tipo de Estado pretensamente põe ao dispôr dos cidadãos para discutir e apreciar as propostas do Governo – comissõs ou comités, reuniões entre dirigentes e membros da comunidade - são viciadas pelo medo e pela auto-censura . Medo de ficar marcado como opositor – revolucionário, contra-revolucionário, ou reacionário, conforme os casos -, auto-censura, porque o mesmo receio leva o cidadão convocado para a reunião, assembleia ou outro meio, a aferir as suas opiniões pelo critério instituido como sendo o critério correcto.
Desta forma, as normas e conceitos, ainda que não aceites em consciência, passam a constituir para o cidadão uma consciência de acomodação, um implante de consciência.
É assim que, mesmo nalguns Estados constituidos como democráticos, a liberdade de consciência é muitas vezes, por força de inércia, coarctada em decisões vitais para o destino de cada povo. Se não discutirmos abertamente os nossos problemas, sem constragimentos ditados pelo medo de as nossas opiniões serem tidas como não aceitáveis segundo critérios implantados nas nossas consciências, sem qualquer intervenção do nosso sentido crítico, deixar-nos-emos arrastar para os rumos de diferentes formas de opressão e de alienação.